O problema dos fogos de artifício não é apenas sonoro, é ambiental e de saúde pública. Os fogos são uma tradição milenar iniciada na China, há cerca de 2000 anos. Eram usados para espantar os maus espíritos por meio do barulho e do brilho. Ao longo dos séculos, as culturas ocidentais também os adotaram na celebração de datas especiais. O Brasil é um dos principais produtores mundiais perdendo apenas para China. A passagem de ano e a celebração da paz são marcadas com grandes queimas. Em nome da paz, o homem se atrita com a natureza. Em meados de 1980, hotéis da orla carioca, com o apoio de autoridades, transformaram o Réveillon de Copacabana em um dos principais eventos de final de ano do mundo. Em 2018, mais de 3 milhões de turistas presenciaram um "espetáculo" com a queima de 25 toneladas de fogos. Os fogos de artifício são formados por um tubo de papel.
Na parte inferior fica o propelente - carga explosiva que leva a mistura combustível para o alto, geralmente pólvora negra (mistura de nitrato de potássio, enxofre e carvão). Na parte superior fica a "bomba", pequenos pacotinhos de sais de diversos elementos químicos responsáveis pelas diferentes cores e efeitos que surgem durante a explosão. Há dois pavios, um para o propelente, que queima mais rápido, e outro para a bomba, que é mais demorado para a explosão no céu. Na explosão, a energia produzida excita os elétrons dos átomos dos elementos químicos que saltam de níveis de menor energia para de maior energia. Quando retornam ao nível original, liberam a energia absorvida em forma de luz colorida. Essa reação não é só beleza. Ela joga na atmosfera toneladas de substâncias perigosas como o estrôncio, além de gás carbônico, um dos responsáveis pelo aquecimento global e partículas tóxicas de poeira. Comemorações com fogos de artifício também são traumáticas para os animais, cuja audição é bastante acurada. Os cães latem em desespero, alguns fogem. Os gatos têm taquicardia, tremores e se escondem em locais minúsculos. Há animais que mudam o temperamento. Cientistas associam alguns eventos de extermínio de peixes e aves aos fogos.
O estresse causado pelo susto das explosões associado às situações climáticas e às dificuldades de alimentos, agravam as consequências. Estudos também buscam relacionar aos fogos, o aumento da incidência de terremotos. É preciso repensar o uso dos fogos. O Comitê Olímpico Internacional (COI) estuda a proibição nas cerimônias dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Se os jogos defendem o meio ambiente, a queima é um paradoxo. Em virtude de tantos problemas, várias cidades do Brasil proibiram ou estão discutindo a proibição de fogos de artifício. Alerta: aprovar fogos silenciosos não basta! As explosões são reações químicas perigosas que afetam o ecossistema e os seres como um todo. O problema deve ser tratado de forma sistêmica e global. No meio ambiente, nada é isolado!